Infinita.
Fico aqui todo dia calculando 333 jeitos de gritar para o mundo que sou artista. Que é pela arte que me movimento e pela arte que continuo viva.
Foi a arte quem me salvou mais de 7 vidas. Senta, respira. Para e pensa.
Ser artista me possibilita existir da forma que eu bem entender ou quiser ser. E quero ser.
Ser isso ou aquilo, ter que decidir ou me rotular nunca foi minha preocupação. Até que a receita social esbarra na nossa porta
infinitas vezes.
Incontáveis rótulos-padrões-repetições, todos na tentativa falha de se encaixar nos papeis desempenhados e reconhecidos no mundo.
(In)
finita, até que a gente escolhe ser e viver assim mesmo, dando jeito pra tudo. Eu quero ser. E vou ser.
O tempo todo presente no aqui-agora procurando, entendendo, perdendo. Contínua e desesperadamente expressando, comunicando alguma coisa entendível-rotulável que a tal sociedade reconheça. Não foi-é atoa.
A ansiedade tomou conta desse corpo há muito tempo, talvez naquela criança distraída que aprendeu a falar mas não sabia se relacionar. Percebi que desempenhar o mesmo papel nesse roteiro-trilha sempre me provocou angústia.
É insustentável ser a montanha. Ela esgota, cria e expande. E vira outra, totalmente nova. Rótulo: artista e ponto final.
A mesma necessidade que move montanhas, te faz trilhar a mesma 50 vezes, subir e descer, pra voltar e ver a mesma paisagem. Ainda que desgastante, exaustivo, e ainda sim, irreconhecível.
Precisei ser curiosa por essa versão que me acompanhava dia e noite, a ponto de querer mapear-registrar cada árvore, cada bicho, cada trilha… Tocar flores e espinhos com os meus próprios olhos… E assim foi, cada sintoma, cada palpitação, cada angústia.
Depois de tudo isso, a gente se pergunta, vai ter medo de quê? Sou o que sou por que decidi fazer trilha com esse corpo-água que habito.
Faça as pazes, mente-pensante: aceite! A mudança é eterna. Que toda dia-hora-ano um novo pensamento me atravessa, me desconfigura para, então, configurar outra vez, de outra maneira.
É claro que eu sou múltipla. A minha natureza me fez artista. Até que simplesmente é.
Trilhar e não deixar passar batido a borboleta azul que cruzou teu caminho e que decidiu pousar. É dançar qualquer ritmo, até no silêncio. É cair e reinventar um passo, um sentimento, um dia de cada vez, toda vez. Presente.
Não tenho como explicar, tá no meu sangue e nas minhas relações. Nas minhas histórias e na minha origem. No meu corpo, mente e espírito. Na minha identidade, perspectiva e missão. São todos fruto da arte.
Porque desde que me entendi gente, ou melhor artista, percebi que meu tempo-vida é contado a partir da qualidade dos infinitos “agora’s” que eu coleciono consciente-presente.
O tempo linear de 25 anos, 9 meses, 11 dias não me pertence. Se fosse tão linear, eu não teria me perdido tanto assim. É que tempo pra mim é trilha. É trilha que se descobre, trilha que se abre, trilha que se caminha, corre e respira. Trilha que a gente se desespera, se puxa e se perde. Rasga todos os limites se precisar porque há de chegar antes do sol se pôr. Trilha que a gente fica, literalmente senta e chora. Trilha que a gente passeia, ri e compartilha. Trilha que a gente não faz sozinha. E trilha que a gente precisa fazer sozinha. Tem trilha que a gente vive uma semana em um só dia.
Quantos “aqui-agora” eu coleciono? Quero sentir toda vez aquela sensação de viver tanto que o tempo passa lento e quando vê, ele foi.
Naquela trilha aprendi a ritmar passo, respiração, mente e coração. A trilha que a arte me ensinou a seguir é a de ser.Sem me provar, sem pedir. Sem depender e sem restringir.
Ser múltipla é coisa dela, nunca será uma coisa só. Ela sim, infinita.