O tempo, guardião de todos os segredos

Anna de Oliveira
2 min readJun 16, 2023

--

Definição: dono de todas as transmutações e regente de toda a natureza.

Que humana-pretensão de querer mensurá-lo, controlá-lo ou até mesmo ir contra ele… Que graça tem? Se não aqui-agora, quando mais? O tempo é ancestral. É presente e nada mais. É eterno e é tudo isso.

Brasília, abril 2023

Nessa trilha não existe caminho mais bonito que aquele que se aprende a fazer com as mais sábias escolhas. Mas não há caminho sem respiração. Sem corpo-presente. Sem observação. Quanto mais inspiro, mais confio. Quanto mais expiro, mais me transformo. Quanto mais respiro, mais aprendo o ritmo, sinto a batida e entendo meu compasso. A cada aqui, um agora; e o mesmo presente, só que diferente.

O tempo me guia, me cuida, me cura. Me cria e me liberta. Outra lição aprendida-libertada. Gal Costa foi quem sussurrou no meu ouvido “a vida é amiga da arte” — e eu, Gal, escolhi ser melhor amiga delas. Essa constante-insistente, pulsante e latente necessidade de expressar, comunicar — gritar. Qual é o meu grito, afinal?

Voltas e voltas correndo contra mim mesma, até que a gente toma a melhor escolha: fazer as pazes. E, adivinha só, a arte é professora e é ela quem te ensina a ser melhor amiga do tempo.

Olho para frente e pego meu caderno. Abro os olhos com uma única certeza: o que foi que eu não senti-vivi ainda?

Fui tantas que, vez ou outra, rabisco no papel algumas palavras, sentimentos ou memórias inventadas. Como forma de lembrança, registro ou até mesmo resgate. Tento, invariavelmente, traçar pontos e encontrar semelhanças. Ler possibilidades e criar soluções — e que fique claro, de forma falha, não sei mais o que solucionar aqui dentro. Achar qualquer sintoma de verdade dentro todas as alternativas. Respirar fundo no vazio, no começo-meio-fim, na origem de todas as coisas.

Por um tempo, sinto que vivi por mim, por elas, por outros, e por cada um deles. Presa num labirinto eterno, um universo distante, paralelo e fragmentado, a escrita me fez presente-consciente. Até chegar nessa completa sensação de que eu, somos nós — e ja não sou só eu.

Vivi múltiplas de mim, aqui-agora sinto uma única certeza-clareza; estou aprendendo a ser eu mesma. Criando, rasgando, libertando. Qual o meu-nosso lugar nesse mundo? Com elas, por todas e cada uma delas

Passo por passo, um resgate atemporal.

--

--

Anna de Oliveira

diretora de cena, comunicadora e artista visual-intuitiva