Rock The Mountain, uma certeza, borboletas no estômago e Djavan

Anna de Oliveira
4 min readJun 22, 2023

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"Olhei em seus olhos e trocamos não só palavras, mas um sentimento compartilhado e eternizado no filme do festival — com outros tantos grandes artistas."

Filme Rock The Mountain (@agenciabae)

Falar de Rock The Mountain é falar de um dos momentos mais difíceis do meu ano passado. Mas é falar também sobre estar no lugar certo, na hora certa e com as pessoas certas. O audiovisual é a minha maior certeza. Independente de mercado, cliente e resultado, sabe? É sobre o que bate aqui dentro, que faz meu coração pulsar e me brilha os olhos todos os dias. Numa série que assisti com uma amiga, numa cena entre meus amigos conversando ou quando vejo de longe alguém vivendo a própria vida da janela, sem nem imaginar o filme que eu já criei na mente sobre ela...

É sobre a parte que eu mais conheço sobre mim! As respostas sempre foram escrachadas e esfregadas na minha cara, sem nem mesmo precisar procurar. Elas estavam ali e se apresentavam em lindas cenas. Por exemplo, quando abordei uma moça pra gravarmos e ela, de início tímida na conversa, se soltava e dançava pra câmera do Rubim, ao som do festival e pequenas instruções que eu cantava para ela. Ou quando andando distraída pelo festival, um casal, ou uma menina, ou os três, me pararam, me abraçaram e diziam que conheciam meu trabalho. Desconhecidos que me tiravam sorrisos e me faziam acreditar que era ali que eu tinha que estar.

Eu poderia parar aqui porque falar de música é falar do que todo mundo vai fazer num festival né? Mas não. 2022, dois anos após o início da pandemia. Esse foi o primeiro festival que fui; o primeiro desde a pandemia. O segundo da minha vida. O festival visto daqui, dos nossos olhos, tem uma outra percepção. A gente vive o festival inteiro através da lente da nossa câmera, isso todo mundo já sabe e se pergunta “dá pra curtir?”.

Eu não poderia deixar de falar sobre meus ouvidos atentos a cada música-trilha-sonora dos nosso takes. E desse jeito a gente sente. Sente cada banda, cada instrumento, cada artista que sobe no palco e se entrega. Ah, dá pra curtir muito! Meus ouvidos atentos me colocaram em estados de consciência, presença - e tudo que a meditação fala - ali, naqueles camarins brancos, com luz fria e, em sua maioria, sempre muita gente. Precisava ser rápida, curta e atingir um lugar naquelas pessoas que talvez não me dessem tanta abertura.

Arrepio só de lembrar. Esperando do lado de fora do camarim, um amigo me viu nervosa, eu comentava que fazia tempo que não sentia “as borboletas no estômago”, e ele me disse “imagina quando ele te olhar nos olhos, você vai ficar mais nervosa”. Respondi que se fosse assim, então eu ficaria muito mais tranquila. Foi quando, na primeira entrevista das muitas que estávamos para realizar, Djavan me interrompeu enquanto me apresentava em pé e chamou, sinalizando para me sentar ao seu lado no sofá do camarim. Olhei em seus olhos e trocamos não só palavras, mas um sentimento compartilhado e eternizado no filme do festival - com outros tantos grandes artistas.

Djavan e eu. Foto: Lucas Guerra

“Ai, quanto querer cabe em meu coração”, um sussurro em forma de lembrança e escuto “Samurai” na minha cabeça. Lembro das tardes que pegava o carro no pôr do sol e escutava cinco músicas de Djavan e as repetia em um looping que eu desejava ser eterno. E é, em minha memória. Obrigada pelo abraço, Djavan, e pelo olho no olho. Por me lembrar da importância de uma simples palavra, "esperança", e o poder que ela tem dentro da gente.

Obrigada a tantos outros que pude trocar essa energia de força estratosférica que posso sentir pulsar na minha pele ainda, aqui-agora.

Ninguém nunca vai tirar isso de mim. Não tem outra Anna. Não existe uma Anna que não viveu esse trampo. Esse e mais tantos que me ensinam e me abrem espaço pra ser quem eu sou, na minha mais pura essência. E é nisso e em mim que sigo firme e acredito. Sentindo, vibrando e me emocionando. Olhando no olho e descobrindo vida com outros viajantes que compartilham essa jornada-tempo comigo.

Filme Rock The Mountain @agenciabae

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Anna de Oliveira

diretora de cena, comunicadora e artista visual-intuitiva